10 | janeiro | 2017

Artigo: O que fazer diante da crise?

Mesmo com o cenário desfavorável existe a possibilidade de realizar negócios ainda rentáveis em um ano totalmente amedrontador


Por: Lygia Pimentel
 
O mercado segue cheio de novidades.

Digo isso pois, dado que cada ciclo pecuário é único, temos um mercado como nunca presenciamos antes. Um mercado ainda em ajuste evolutivo do consumo (infelizmente, para baixo) e sem sinais concretos de reversão de tendência, apenas indicações vindas do Banco Central que, diga-se, já decepcionou muito no passado com suas projeções.

Ao longo de 2015, o que observamos foi ajuste em cima de ajuste da previsão anterior, de modo a corrigir projeções completamente fora do realizado. Isso explica um pouco do meu ceticismo com uma projeção de alta para o PIB da ordem de 0,70% registrada na semana passada contra uma de 0,58% anunciada na última sexta-feira. Especialmente diante de um cenário de crise política tão densa como a que observamos.

A agenda política já tomou um pouco de forma, é verdade. E isso é algo muito positivo considerando o longo caminho que trilhamos desde 2010. Há uma grande vitória embutida nessa rasa organização. Entretanto, o desemprego segue evoluindo e a crise política deixa tudo extremamente lento, o que leva a crer que 2017 continuará sendo desafiador sob a ótica econômica, com possibilidade de nova queda do PIB.

Assim, é importante lembrar que o mercado continuará difícil, que a recuperação do varejo demorará e que o rebanho cresceu nos últimos anos juntamente com nossa capacidade produtiva, o que deve complicar a situação dos preços. Em outras palavras, falta consumo e sobre oferta.

Podemos tentar abrandar o sentimento sob a ótica do clima, do Natal, das exportações, mas a verdade é que quanto mais rápido enxergamos o iceberg, maior nossa possibilidade de desviar dele. É nisso que focamos aqui: ações concretas.

Temos verificado pontos positivos? Claro que sim! Nenhum mercado no mundo é unilateral em apenas apresentar fatores negativos. A própria lei da oferta e da demanda embute isso em sua premissa de busca pelo equilíbrio ideal dos preços. E apesar desses fatores, a situação segue preocupante.

Assim, para quem ainda quer acreditar em Papai Noel, seguem fatores de “alívio” (na nossa visão, fatores complementares à relação ‘oferta x demanda’). Aqueles fatores aos quais gostaríamos de poder nos agarrar para acreditar que em 2017 não teremos crise:

1. Um desses pontos positivos consiste exatamente no desânimo, na preocupação com a tempestade que se aproxima. Todo mundo fica receoso e desacelera, o que traz consequências negativas para o volume produzido e, adivinhe… equilibra os preços!

Alguém aí se lembra das premissas do ciclo pecuário? Sim, esse ponto faz parte da dos cálculos para o acompanhamento cuidadoso do ciclo pecuário.

2. Outra questão de alívio é a possibilidade cada dia mais real de preços mais baixos para os grãos. Com a perspectiva de clima melhor favorecendo as lavouras, vem também a perspectiva de melhores condições de pastagem, que aumentaria o ritmo de engorda, porém baratearia a engorda.

3. Mais um ponto interessante é o arrefecimento da pressão insistente que vinha tomando espaço por parte da reposição. Ao mesmo tempo que ela representa a virada definitiva do ciclo pecuário, o que é ruim para os preços reais (e, no caso da nossa projeção, também nominais), ela indica menor pressão de custo sobre os animais repostos, um grande alívio quando consideramos as relações de troca.

É um ponto de vista interessante que pode indicar algum alívio por parte dos custos em 2017, algo que por si só já pode significar a margem do ano. Afinal, tão importante quanto o preço de venda é o preço de compra, ou o custo de um ativo. Então aqui temos o primeiro ponto de alívio para 2017.

Com possibilidade de algumas poucas e pequenas boas surpresas para o segundo semestre e custos menos pressionados pelos grãos e reposição, podemos começar a enxergar a possibilidade de realizar negócios ainda rentáveis em um ano totalmente amedrontador.

Quem conseguir fazer isso estará anos-luz adiante e terá mais fôlego para enfrentar a fase de baixa do ciclo atual.

As ações que recomendamos para hoje são:

1. Tenha medo de 2017, sim!

2. Negocie incansavelmente a reposição, insumos e serviços a serem contratados;

3. Venda antecipadamente quando houver chance de margem positiva. Venda imediatamente quando o retorno estiver acima de 1,2% ao mês;

4. Não desista de suas fêmeas tão cedo, mas intensifique a compra de bezerros ao invés da sua produção para as próximas 2-3 temporadas. Afinal, a relação de troca segue se recuperando e é a hora de aproveitar isso aumentando a lotação da fazenda;

5. Na medida do possível, não desacelere a aplicação de tecnologia na propriedade por medo do que pode vir pela frente, pois isso pode te colocar na roda maior do ciclo pecuário juntamente aos produtores pouco tecnificados;

6. Faça contas incansavelmente, todos os dias;

7. Invista seu tempo na análise do seu negócio para conhecê-lo a fundo mais do que nunca. Isso fará toda a diferença.

No curto-prazo, o mercado segue pressionado, com escalas bem desenvolvidas e consumo deprimido. O varejo segue vivendo seu pior Natal dos últimos 11 anos até o momento, mas a virada do ano sempre representa momento de o pecuarista sair das vendas.

Isso pode trazer uma pequena reação pelo leve enxugamento dos estoques na virada do ano e um bom momento para se negociar os últimos lotes do ano. Ressalto aqui que em anos de consumo deprimido, a probabilidade de ocorrência dessa reação cai em 35%. Trinta e cinco por cento é bem relevante, então a indicação da Agrifatto é não arriscar uma alta incerta por uma margem certa (ou um zero a zero certo). Negocie logo!

*Lygia Pimentel é médica veterinária, pecuarista e consultora pela Agrifatto